quarta-feira, 2 de março de 2016

A eterna culpa pela terceirização da infância

Você bem sabe como é: está perto de acabar a licença maternidade ou até mesmo você só consegue um mês de licença (para o caso das trabalhadoras autônomas) para ficar com seu bebê e surgem dúvidas, incertezas e comentários maldosos de outras pessoas, que não entendem a situação que se passa.

No antigo modelo de maternidade, a mãe ficava sempre em casa cuidando da casa e dos filhos. E isso é bastante trabalho! A mãe assume o papel de mãe em prol de seus próprios desejos profissionais e pessoais. E as mães que trabalham fora acabam sofrendo julgamentos de outrem por "largarem" seus filhos nas mãos de cuidadoras, avós e creches, como se houvesse a total ausência do convívio com seus filhos ao passarem a trabalhar.



Não é bem assim, devo dizer. Já existem estudos que até comprovam que as crianças que convivem com outras pessoas e crianças além dos pais e irmãos possuem um impulso maior de desenvolvimento e crescem para se tornar mais autônomas no futuro. E isso não é de fato bom?



O que vejo hoje em dia são muitas mães atreladas ao conceito antigo de maternidade, se sentindo culpadas por terem que voltar a trabalhar ou estudar, como se fossem abandonar seus filhos nas 9-10 horas do dia que ficam ausente (sendo que temos mais 14h no dia e outras 48h no fim de semana para estarmos presentes).

Quando tive que voltar a trabalhar, tive que tomar uma decisão: ou poria na creche ou deixaria com cuidadora. Optei pela segunda e não tenho arrependimentos, somente alegrias. Por experiência própria, digo que minha volta ao trabalho foi muito benéfica tanto para mim quanto para meu filho pois percebi que:
  • O carinho dele por mim só aumentou e vice-versa
  • Ele passou a conviver melhor com outras pessoas como as avós, avôs, babás e outros amigos. Ficou, de certa maneira, mais independente.
  • A mudança de ambiente faz com que ele experimente o novo, explore e aprenda. Ele teve um grande salto de desenvolvimento aos 7 meses.
  • Hoje eu valorizo meu tempo com ele, nunca perco minha paciência e estou sempre disposta a brincar com ele e fazer o melhor que posso pois sei que o tempo que passa não volta mais.
  • Estou me sentindo valorizada como profissional e sinto que isso se espelha positivamente na minha relação com ele.
  • Ganho dinheiro suficiente para dar a ele o melhor que posso sem aperto.


E então? Como fazer para se livrar da culpa? Geralmente ou você trabalha pela necessidade financeira ou realização pessoal, ou ainda por ambos. Eu digo que trabalho por ambos os motivos: o trabalho sempre esteve presente na minha vida e afetou minha autoestima positivamente e de outro modo sempre precisei do dinheiro que ganhava. Se você tem um motivo ou dois, você precisa trabalhar, então não existe culpa. Se você trabalha, não precisa e não gosta, deve reavaliar: pode virar uma Stay at home mom.



Algumas dicas eu dou abaixo para que você fique mais tranquila em relação à decisão de volta ao trabalho:
  • A decisão de usar babá ou creche deve ser avaliada meses antes com carinho. Conheça as creches e como funcionam ou pegue uma babá por indicação de conhecidos. Balanceie os prós e os contras de cada opção. Existem ainda opções mistas como deixar a babá na supervisão das avós ou fazer meio período de creche e meio período de avó.
  • Faça um período de adaptação de no mínimo 2 semanas na creche ou com a babá para que o bebê se acostume às novas pessoas e nova rotina. Saia um pouco de casa e veja como ele reage, mas se lembre de fazer tudo de maneira gradual.
  • Evite fazer o período de transição entre os 8 e 10 meses, no qual acontece a primeira fase da ansiedade da separação, pois isso pode ser traumático para a criança.
  • Quando estiver trabalhando, mergulhe no trabalho e evite pensar muito no seu filho. Se a saudade matar, ligue para saber como vão as coisas.
  • Se possível, venha no horário de almoço nos primeiros meses para ficar um pouco com seu bebê.
  • Evite fazer horas extras: negocie com seu chefe um horário mais flexível de trabalho.
  • Curta ao máximo o momento que tiver com seu filho: brinque, interaja, dê carinho. Você se sentirá plena e feliz com esses momentos.
  • Se houver comentários maldosos, finja que escutou e concorde. Não argumente, não perca suas energias com isso pois a pessoa que o faz não conhece sua vida.

E aí? Quem já passou por esse sentimento de culpa? Como fizeram para contornar isso?

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